segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pavio Curto

  Homens são mais violentos que mulheres?
  Os números dizem que sim, isso é um fato. 

  Homens representam cerca de 90% das pessoas presas no Brasil.

  Quer dizer que todos os homens são violentos e todas as mulheres pacificas?
  Claro que não.

   Há mulheres que por qualquer coisa querem partir para briga, a sorte é que geralmente são mais fracas que seus parceiros senão o cidadão apanharia várias vezes ao dia.😊 

  Meu pai não era tão violento quanto outros homens que já observei, tem homem que é torturador, sádico.

  Claro que absolutamente nada justificava meu pai bater na minha mãe, mas se minha mãe fosse menos irritadiça/ansiosa talvez nem apanhasse.
  Minha mãe falava, falava, falava ... levava qualquer um ao limite.
  Eu adorava minha mãe, não considero isso denegrir sua imagem, espero que sua história ajude outras pessoas a viverem melhor. 
  Ela parecia não entender que que não devemos apagar fogo com gasolina.

  Quanto a meu pai ... infelizmente não consigo localizar em mim aquele amor que um filho deveria sentir pelo pai, mas não o achava um mau sujeito, apenas extremamente infantil como tantos humanos são.
  Se eu fosse defini-lo seria: 
  Uma “criança crescida” com pavio curto. 
  (O problema é que a mesma definição serve para minha mãe.)

 
Pavio Curto - Pessoa de comportamento explosivo, pouco paciente ou tolerante.

  Meu pai era forte, o resultado de leva-lo ao limite nunca seria bom para minha mãe.
  Eu desde cedo já conhecia os limites do meu pai, seria ilógico ultrapassa-los.
  Puxei muito pela memória, só me lembro de ter apanhado do meu pai uma vez enquanto que de minha mãe foram várias vezes... os limites da minha mãe eram bem baixos você os ultrapassava até sem querer.
  Quero dizer que com a personalidade do meu pai e de minha mãe a violência verbal era inevitável podendo chegar a violência física fácil, fácil.

  Porque meu pai me bateu?

  Eu e meus irmãos possuíamos uma caneca de plástico da mais barata que você imaginar, uma para cada um.
  Copo de vidro não havia.
  Tinha um copo de alumínio onde meu pai deveria tomar a cachaça dele.
  Só sei que eu fiz um chá de erva cidreira e ao colocar na minha caneca subiu aquele cheiro de pinga.
   O gosto de pinga ficou no chá.
  De certo meu pai usou minha caneca.
  Isso já havia ocorrido antes, cachaça deixa um gosto residual no plástico que demora para sair.
  Em um momento de descontrole eu praticamente gritei com meu pai.

  PAI, NÃO USA MAIS MINHA CANECA PARA BEBER PINGA!

  Meu pai óbvio não gostou nada do jeito que eu falei, ele me deu um tapa o chá caiu todo na minha perna, ainda bem que não estava muito quente.
  Ele me deu o segundo tapa, como não esbocei a menor reação e não falaria absolutamente nada acredito que pararia por aí com um pequeno sermão sobre o respeito que eu lhe devia.
  Acontece que minha irmã Jane ficou indignada, interviu xingando.
  Meu pai foi atrás dela que correu para cozinha.
  Nisso eu fiquei desesperado, preocupado com o que aconteceria a minha irmã, o que eu poderia fazer contra um homem daquele tamanho!?
  Ouvi um barulho alto e oco corri para cozinha para implorar a meu pai que parasse de bater na minha irmã.
  A cena foi tão inesperada que tudo parecia em câmara lenta para logo em seguida desenrolar em super velocidade.
  Minha irmã acertou meu pai com a panela de pressão e saiu correndo pela porta da cozinha, ela sempre foi pavio curto, puxou meu pai e minha mãe.
  Meu pai não chegou a desmaiar, mas estava cambaleando.

  Morávamos na Vila Industrial todos sabiam dos nossos problemas, a vizinha trancou minha irmã na casa dela.
  Ao ver o que tinha acontecido eu e meus irmãos saímos correndo de casa o mais distante possível até meu pai esfriar a cabeça.
  Decidimos ir ao encontro de nossa mãe que fazia faxina na Igreja São José, uns 5 Km de distância, eram umas 2 horas da tarde.
  Nem conseguimos falar com ela.
  Como eu era o mais "velho" (estava com 10 anos) falei para a mulher da recepção que houve uma briga entre meu pai e minha irmã e eu queria falar com minha mãe.
  Eu ainda me lembro mais ou menos o que ela disse:


😕 “Sua mãe está muito estressada, a ponto de ser internada em um hospital, leve seus irmãos para casa, não traga mais esse problema para ela.”


  Conclui que a mulher estava coberta de razão, foi bastante lógica, afinal o que minha mãe poderia fazer!?
  Falei sim senhora e fui caminhando bem devagar com meus irmãos de volta para casa, tentando ganhar qualquer tempo.
  Naquele momento achei tudo normal, mas depois de anos ao analisar aquela cena ... caraca eu tinha só 10 anos!
  Meu irmão 8, minhas irmãs 6 e 4.
  Quatro crianças vagando pela rua com medo de voltar para casa.
  A irmã que ficou na casa da vizinha tinha 12.

  Com 10 anos eu me sentia tão responsável por aquelas vidas, minha família dizia que eu nasci velho, acho que nasci mesmo.

  A noite minha mãe ao se inteirar do ocorrido discutiu com meu pai, mas nada saiu fora de controle ... não chegou a violência física.
  Meu pai ficou muito apático.
  Fazendo uma leitura hoje acho que a panelada não doeu tanto em sua cabeça quanto doeu em sua alma.
  Eu tenho uma filha de 12 anos, se ela me olhasse com ódio a ponto de uma agressão ... seria um dia terrivelmente triste para mim.

  Essa parte é importante, preste atenção:
  
  

   Meu pai parecia não ter CONSCIÊNCIA que nós éramos as vítimas.

 

  Ele estava desempregado, foi despedido da Sanasa porque deu um murro no encarregado. 

  Não procurava emprego porque “segundo ele” poderia atrapalhar um processo movido contra a empresa.
  O dinheiro que ele tinha era alguma coisa que minha vó dava, gastava apenas com cigarro e bebida.
  Em casa ficava horas sentado no sofá fumando e contemplando o vazio.
  Tinha brigas feias com minha mãe que não raro acabava em agressão física.

  Hoje, tentando uma explicação para a apatia do meu pai, acredito que ele entendeu naquele dia que não tinha amor e respeito dos filhos e muito menos da esposa, só tínhamos medo.
  Em uma dessas inversões de papéis que desafiam o bom senso ... meu pai se sentia vítima.
  É como se devêssemos amor e respeito incondicional a ele não importa o que fizesse.

  Parece que a partir daquele dia o único plano de meu pai era não fazer nada, para entendermos que não éramos nada sem ele.
  Meu pai que não fazia nada resolveu dobrar a meta...

 Lembrei de um elogio sobre o seu Madruga (Do Chaves) que li na Internet e tive que ser chato pela bilionésima vez.



Geralmente é alcoólatra


    Quem quer um cara igual o seu Madruga como pai!? 
  É engraçado na TV ou na família do vizinho.
  Na vida real qualquer um preferiria ter como pai o Seu Barriga. 
  Calmo, tolerante, capaz de sustentar a família.


  Enfim, com a ajuda dos Vicentinos da igreja São José minha mãe construiu 3 cômodos no quintal da minha vó Tidi, fomos vivendo péssimos sem meu pai, mas já estávamos péssimos com ele então não fez falta até ganhamos um pouco em termos de PAZ.

  Analisando meu pai e outros homens agressivos não vejo praticidade nessas campanhas que fazem contra violência doméstica.
  Muito tempo e dinheiro jogados fora.

  Essas campanhas focam em uma suposta sociedade machista oprimindo violentamente as mulheres por tradição.
 A análise é errada.
  É algo como você ter úlcera e tomar remédio para hipertensão.
  Ninguém precisa dizer para mim e para maioria dos homens que bater em mulher é errado, esse tipo de campanha não nos atinge, são desnecessárias.
  Para os homens violentos é como se não fosse com eles, é outro tipo de consciência.
  Na mente deles eles só batem em quem “merece” apanhar.
  Por gritar com meu pai eu mereci apanhar, não importa o que me levou ao grito.
  Por minha irmã sair em minha defesa ela merecia apanhar, não importa o motivo de sua indignação.
  Meu pai estava passando por uma fase difícil e todos deveríamos ser compreensivos. 

  Naqueles dias água e a luz estavam cortadas.

  O dinheiro que minha mãe recebia na faxina mal dava para comprar gás e alguma comida para 5 crianças.
  A igreja nos dava uma cesta básica era o que nos mantinha.
  Naquele Natal nossa ceia foi arroz e sardinha em lata...lembro de garrafinhas de refrigerante Vanucci, minha mãe ganhou de alguém.


  Diante desse quadro meu pai não conseguia entender o porquê da nossa falta de respeito!!!

  Aqui chegamos nas profundezas do Abismo o plano de pensamento é: 

Consciência - Sentido ou percepção que o ser humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais.

  Na percepção do meu pai o que ele fazia era moralmente aceitável.
  Não há campanha publicitaria que consiga mudar isso.
  Não estou propondo acabar com esse tipo de campanha só estou tentando mostrar que elas são necessárias, mas pouco eficientes.

  Vamos a um exemplo light onde muitos possam se enxergar.
  Alguém tem dúvida que dirigir digitando ou falando no celular é perigoso?
  Acredito que não.
  Então porque vemos tanta gente fazendo isso!? 
  Eu não faço, não precisa de campanha nesse sentido para pessoas iguais a mim.
  Os que usam o celular enquanto dirigem ... não deixam de fazer isso ao verem uma mensagem no Outdoor.
  Aqui no Brasil é comum a pregação que a solução para tudo é educação escolar  ...  é difícil acreditar que pessoas em seus carrões são semi analfabetas.
  Elas de alguma forma sabem, estão informadas que não devem usar o celular, mas acham moralmente aceitável, uma licença exclusiva para suas necessidades ... é só uma utilização "rápida".
  Pode reparar que se a pessoa está no celular e vê um agente de trânsito sua “consciência” desperta rapidinho...

  As campanhas servem para ninguém se fazer de sonso, dizer que não foi avisado.
  Mas o foco tem que ser a PUNIÇÃO.
  Para certos atos que os indivíduos praticam só funciona o medo da punição, por vezes nem isso.

  Meu pai nunca pagou pensão, sabia que poderia ser preso, ele não tinha medo dessa punição porque se minha mãe fizesse isso “merecia” morrer...




13 de Janeiro








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