sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Regressão Moral




  

  “Bons argumentos são antídotos contra falácias.”

   (William Robson)

  



  ARGUMENTOS são ideias lógicas relacionadas entre si com o propósito de esclarecer e resolver determinada situação ou dúvida.
  São normalmente baseados em premissas que ajudam a construir uma conclusão.
   No entanto, todas as premissas devem ter como alicerce um sentido lógico, caso contrário o resultado final não é válido.
  (Significados)

   FALÁCIA significa erro, engano ou falsidade.
   Ideia errada que é transmitida como verdadeira, enganando outras pessoas.
   No âmbito da lógica, falácia consiste no ato de chegar a uma determinada conclusão errada a partir de proposições que são falsas.
 (Significados)

  

  

 "A cura para um argumento falacioso não é a supressão de ideias e sim um argumento melhor."  

  (Carl Sagan)

  



  Quando li essa frase de Carl Sagan gostei e entendi o que quis dizer, mas achei a construção ineficiente.
  “Argumento falacioso” é uma “liberdade poética” que estraga a frase.
  Se um plano de pensamento é falso ou ilógico ... não é um argumento.
  É no máximo sofisma.

  Vamos verificar isso na prática.

  Um grande debate meu com Kardecistas é se o espírito pode ou não regredir moralmente.

  Segundo o Kardecismo (Espiritismo) quanto mais um espírito encarna mais evolui moralmente, pode até estacionar, mas regredir nunca.

  Como isso está escrito na Doutrina Espírita, qualquer ponderação minha sobre a doutrina não pode começar admitindo a possibilidade de um espírito ter regredido moralmente, tenho que suprimir essa possibilidade de minha mente.
  Ficamos diante de um dogma ... não questione, apenas aceite.

  Nunca fui bom nesse negócio de suprimir ideias, eu concordo ou não concordo com elas, mas não pensar nelas, apagá-las de minha mente é muito difícil.

  Exemplo:
  Na maior parte de minha vida fui contra a pena de morte, os espiritas também são. 
  Eu já era contra a pena de morte nas minhas fases católica e evangélica.
  Quando comecei a participar de grupos de discussão pela Internet tive  muita dificuldade para defender essa posição de ser contrario a pena de morte.
  Chegou uma hora que não deu mais para seguir "a voz do coração", a razão gritava que a pena de morte é uma ferramenta para controle da violência que não pode ser descartada, é aceitável.

   Aqui temos uma boa premissa:

  "Se" admitir a pena de morte é uma regressão, fica claro que eu regredi moralmente.

  Debatendo em um site espírita foi me dito o seguinte:


 😒 "Você William, já era a favor da pena de morte desde a infância, só não havia descoberto isso ainda."
  (Comentarista)


  Caraca!
  Os caras se acham capazes de penetrar na minha mente a ponto de determinar com segurança as ideias com as quais eu nasci!?
  Posso garantir a vocês que dúvidas eu tenho a respeito de quase tudo.
  Digamos que eu era 99% contra a pena de morte, 1% eram duvidas.
  Nos debates eu defendia a posição que a vida pertence a Deus e só ele pode tirar.
  Acreditava que matar um assassino nos igualaria a ele.

  Faz tempo que meu posicionamento se inverteu.



  Sem dúvida houve uma regressão moral ... segundo a posição Kardecista de ser contra a pena de morte.


  Calma, você que é Kardecista e conhece bem a doutrina já vai dizer que estou sofismando.
  Essa foi só a introdução, vamos a outro ponto fundamental da doutrina.

  Em verdade vos digo que:

  Os espíritas defendem que a aparente regressão moral pode acontecer em uma existência, mas não de uma encarnação para outra.

  Logo, eu “regredir moralmente” nessa existência não depõe contra a doutrina.

  Fica assim.
  Não houve uma regressão de fato.
  Na encarnação anterior eu NÃO alcancei a “evolução moral” de ser contra a pena de morte.
  Como nessa encarnação nasci em um ambiente contrário a essa pena fui “imitando” o meio.
  Mas na hora do vamos ver ... minha real situação moral aflora.

  Perceberam?
  Está determinado que aceitar a pena de morte como punição justa/logica para um crime hediondo é “imoral”.
  A premissa é acreditar sem questionar que a reencarnação realmente acontece e  Kardecistas sabem todas as leis que a rege.

 Acredito que com exceção dos Kardecistas, todas as outras correntes de pensamento concordam que é uma premissa fraca para construir um ARGUMENTO.
  A "reencarnação" é uma “crença”, não um fato indiscutível.
 
  Mas para essa meditação ficar mais interessante, vamos admitir hipoteticamente que a doutrina espírita esta 100% certa.
  Vou persistir na análise se pode ou não haver regressão moral.
 
  Para espíritas somos criados individualmente puros e ignorantes.
  Você não existia, assim que passou a existir espiritualmente era puro.
  Na sua primeira encarnação comete "pecados", adquire defeitos morais/éticos que serão resgatados a perder de vista em várias reencarnações até que volte a ser puro...
  Caraca, se já fomos criados puros e ao encarnar ficamos impuros houve uma regressão moral.
  Percebem que não conseguimos tirar a regressão moral da equação por mais que tentemos?

  O nó mental não para aí.

  Podemos ARGUMENTAR que nascemos puros e ignorantes, queremos continuar puros, mas adquirir conhecimento.

  Para adquirir conhecimento o preço a pagar é perder a pureza?

    Fica um pensamento coerente, caminhamos para ter mais conhecimento e o preço a pagar é controlar o monstro em nós, controlar nossa REGRESSÃO MORAL que surgiu justamente do conhecimento do bem e do mal.

  Acontece que espíritas defendem que adquirir conhecimento nos torna mais evoluídos moralmente, nos purifica.
  A equação que eles nos apresentam é um samba do crioulo doido, não tem como fechá-la.
  
  Adquirir conhecimento me tornou mais impuro?

  "Decifra-me ou te devoro"!





    

  

😒 “A evolução é pra frente...
Parafraseando Einstein, uma mente que se abre ao conhecimento jamais retoma a forma inicial.
Acredito, então, que tudo o que acontece após a abertura para o conhecimento, por exemplo, e que pudesse indicar retrocesso de alguma forma, seria resquício do estágio anterior, ou escolha...”
 (Comentarista)
  
  A proposta dessa meditação é mais complexa.
  A doutrina Kardecista fala em uma evolução “moral”.
  Falar da moral terrena já é muito subjetivo, o que dizer de uma dimensão (pós morte biológica) que apenas “suspeitamos” que existe!

  Vou usar um exemplo terreno já que citou Einstein.
  Para construir uma bomba atômica é preciso muito conhecimento, a mente dos cientistas se abre muito.
  Se essa bomba vai ser usada de forma “moral ou imoral” é uma situação muito diferente.

  Se ser inteligente e adquirir conhecimento necessariamente nos levasse a “melhorar eticamente” os ladrões, corruptos, assassinos … seriam os humanos mais “burros e ignorantes” e sabemos que isso não corresponde à realidade.

  Indo para o surreal...

  Existem espíritos poderosos do bem em oposição a espíritos poderosos do mal.
  Por uma dedução lógica esse poder só pode vir de conhecimento.
  O mesmo conhecimento que levou espíritos a optarem pelo “bem” levou outros a optarem pelo mal.

  A dedução que não é tão fácil é:

  Um espírito que optou pelo mal nem que passe milhares de anos nunca irá "regredir" em direção ao “bem”.

  Um espírito que optou pelo bem nem que passe milhares de anos nunca irá “regredir” em direção ao “mal”.

  Diz a lenda que Lúcifer era “bom” e virou contestador das “leis divinas”, não estava sozinho, um numeroso exército de “anjos” se juntou a ele.

  Você de qualquer religião, tem certeza que não há regressão moral?

 

  




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