sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Gestos Simples

“Eu gosto da rotina.
 Não tenha tanta ansiedade pelo novo, pelo diferente, cuide das páginas de sua vida que ainda não foram arrancadas.”
[William Robson]

Alzheimer - A Associação Internacional do Alzheimer calcula que o número de pessoas com demência crescerá de 35,6 milhões em 2010 para 65,7 milhões em 2030 e 115,4 milhões em 2050.
 Os custos, incluindo gastos hospitalares e cuidados domésticos, medicamentos e visitas clínicas, devem subir cerca de 85% até 2030 a partir dos US$ 600 bilhões gastos em 2010, aproximadamente o PIB da Suíça. [Terra]

Parkinson - Nos Estados Unidos, a prevalência da Doença de Parkinson é de 160 por 100.000 pessoas, embora esteja aumentando.
  Há mais de um milhão de sofredores só nesse país. Noutros países desenvolvidos a incidência é semelhante.
  A idade pico de incidência é por volta dos 60 anos, mas pode surgir em qualquer altura dos 35 aos 85 anos. 
[Wikipédia]

  Esse texto pode lhe ser muito útil se no lugar dos nomes que eu citar você colocar nomes dos seus próprio familiares ou pessoas próximas em situação semelhante.

  Uma das coisas que me dá pena das pessoas é a ilusão que podem tudo, que viverão para sempre fortes e saudáveis, basta ter Fé e se esforçar.

  Se essa ilusão pudesse ser mantida indefinidamente me sentiria até muito mal em trazer um pouco de realidade para a vida dos indivíduos.
  Como a realidade não dá a mínima para a ilusão que as pessoas alimentam eu considero estar fazendo um favor.

  "Todo relacionamento que não acaba com separação, acaba em morte. Tudo desmorona no final." 
[House]

  Vou citar 4 pessoas próximas cuja possibilidade de morte permanece há muito tempo no “amarelo”.
  Minha sogra Cecília é uma mulher cheia de vida, mas sempre relata uma “batedeira” no coração que não é identificada pelos exames médicos, não é raro ela ter que ser levada ao pronto socorro por conta de se sentir muito mal.
  Meu sogro Lázaro é desses homens que fogem de médico, sempre reclama de dores, mas não busca qualquer tratamento, as poucas vezes que foi ao médico foi levado quase inconsciente.
  Minha vó Tidi já passou dos 85 é independente, mas sua saúde sempre inspira cuidados.
  Minha *mãe usa marca passo há mais de 15 anos, sempre que o aparelho começa perder força nos causa muita apreensão.



  Não tenho do que reclamar da Cecília.
  É aquela mãezona pronta a socorrer qualquer um dos filhos, basta um chamar e ela move mundos e fundos para estar perto do filho.
  Acho que a grande missão secreta de Cecília é viver por sua família sem pensar muito nela mesma.
  O triste FATO é que a Cecília, eu e você não duraremos para sempre.
  Minha mãe, minha vó e meu sogro não estão em seu melhor momento físico, devemos ficar satisfeitos em ao menos estarem estabilizados.
  Mesmo para eu que estou acostumado a pensamentos lógicos confesso que não consigo pensar naquele dia que a Cecília não baterá mais a minha porta trazendo verduras plantadas pelo meu sogro Lázaro sem ficar muito emocionado.
  Ela vem uma ou duas vezes por semana por volta das 10 horas, me dá um abraço um beijo e faz companhia a minhas filhas, seu assunto preferido são seus filhos e filhas.
  É tudo tão simples e tão MARAVILHOSO.
  Tudo tão passageiro mesmo que pareça ETERNO.



  Meu olho de ciclope por vezes toma conta da minha mente, não o evito, gosto que ele surja de vez em quando e me lembre da finitude da vida.
  Me faz lembrar que gestos simples um dia me farão falta, eu não estarei mais aqui para dar ou recebe-los.
  Saber que tudo irá desmoronar me faz valorizar tudo que ainda permanece de pé, um corpo que consegue se manter independente e com lucidez mental.
  Vida longa e próspera a Cecília e ao seu parente querido que lhe veio na lembrança agora.

  Eu acredito que se as pessoas pensassem mais na finitude da vida, não desperdiçariam tanto tempo com magoas e ressentimentos tolos querendo receber sempre um tratamento muito especial dos outros.

  Nós é que passamos a tratar as pessoas de maneira especial, reconhecemos nos outros nossos irmãozinhos de humanidade.
  Esse exercício que vou lhes propor não deve ser feito com frequência senão você vai viver muito triste como o povo ciclope ou deixar de viver sua vida para ser um serviçal da vontade dos outros, não devemos deixar que a imagem da morte se sobreponha a imagem da vida.

  Quando uma pessoa querida chegar perto, use seu olho de ciclope, entenda que ela não é um objeto que sempre estará ali, pense nos gestos simples que um dia lhe farão muita falta.

  Se essa lógica não entra em sua mente... tudo bem, para entender esse texto lhe basta o SENTIMENTO.

  To be Continued...





*Minha mãe faleceu em 2014.






7 comentários:

William Robson disse...

Sem saber que Rocha era um ex-deputado réu do mensalão, a vendedora foi interpelada para dar sua opinião sobre o julgamento em curso.

— Estou amando! Finalmente está havendo justiça nesse país. Mas minha irmã é quem está mais bem informada, porque é cientista política — disse a moça.
— Ah! Você não sabe de nada, só o que lê na imprensa, na “Veja”, que só está fazendo esse papel sujo porque o presidente Lula abriu o mercado para os árabes. Sua irmã também não sabe de nada! Intelectual que se informa por livros e não sabe o que se passou de verdade nesse processo! — esbravejou Paulo Rocha, assustando também a moça. [O Globo]
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HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH!

PASSEANDO

Daniel disse...

Meu Ideal Seria Escrever...

Rubem Braga


Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.


A crônica acima foi extraída do livro "A traição das elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91.

Saiba tudo sobre o autor e sua obra em "Biografias".

carpideira 535,de bom dia, disse...

Sr.William, "ela" teve uma isquemia.
De todos os jovens da casa,foi de mim que se manteve mais "distante" emotivamente.
Imaginei a "causa antiga" disso,em novembro último.
(os textos sobre o fato,estão no espaço "Escolha o Caminho".)
Eu me adaptei muito bem à formalidade entre nós,e isso moldou minha personalidade-me fazendo um tanto "durona".
Tivemos uns debates acalorados antigamente,e incrivelmente,ela disse se assustar com minha rigidez moralista.
Eu era cismada "que ela não se agradava do meu irmão" menos novo-mas isso acabou passando.

Agora ela precisa de mim.
Que tristeza,sr.William- ver uma pessoa com as sequelas do que falei no começo...
Estamos pondo em dia justamente,os "gestos simples".
A formalidade que existe entre nós,provisoriamente,foi posta de lado.
Não há mais Nihil nem Irene,não há mais Safo nem Frinone,não há mais Lísias nem Erasto,não há mais "Nina e Carminha",há apenas uma mãe e uma filha.
Eu passo o tempo preocupada com ela,e ela que sempre se surpreende comigo,diz que está surpresa com isso também.
Sente pena de saber o que isso significa na minha vida agora,e eu não falo nada.
Preciso ser prática,não há tempo para ficar emocionada.
Mas,mentalmente,sinto remorso...pelos "gestos simples" que não tive antes.
°
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Eu fiquei emotiva ontem à noite,quando li seu texto,mas não pude responder,porque estava mais do que caindo de canseira.
Estou grata por ter aceito o desafio de falar nessas coisas.
O texto deve ter sensibilizado todos os que tem motivos para se preocuparem com seus entes queridos.

Com certeza,nosso destino é um dia,virarmos uma página no diário dos outros,mas de preferência,podemos passar "dessa para melhor",com saúde.
À semelhança do que ocorreu ao "pai-pitaco",nos anos noventa,quando foi diagnosticado de uma doença crônica- e rara aqui no Brasil(esclerose múltipla),ela irá se recuperar.

Deus pague ao sr- que com competência e sensibilidade,aborda todos os temas com suas lentes filosóficas.

turbilhão 1.092 disse...

Parabéns,Denytus,pelo texto do Rubem Braga.

Li os outros artigos,e aos links que o sr.William postou no texto principal.

De fato,até agora,todo paciente de alzheimer que eu conheci é mulher.
Ah,mas que m*...
...quer dizer que a criatura feminina veio ao mundo só para parir,e para cuidar dos outros.
Quando vai envelhecendo,pode ser descartada,pois seu "espírito" passa a não ter utilidade,já que sua vida é predominantemente,dedicada às tarefas físicas.

Vai se ferrar,Deus que fez a natureza.
Vai se ferrar.

Quando escrevi o conto "Quase um Brâmane",de forma correta intuí que o Alzheimer se instala na pessoa muitos anos antes de começar a se manifestar.
Meu personagem Angulimala -devido à meditação,percebeu quando "sua alma ia ser destruída" e eu o fiz dar cabo de si mesmo,antes de ter de fato se demenciado.
Esse será meu destino,se isso ocorrer.

E quanto a você,Natureza,reformule suas leis,pois eu não vou me adaptar a todas elas.
Aceito a maioria das contingências,mas um ou outra,eu sempre rejeitarei.

Não estou aqui para aceitar ser só um animal usado em trabalhos indiretamente ligados à manutenção de qualquer sistema social,para depois ser marcada para o descarte.
Dá um jeito aí,Deus,ou Natureza.
Ou vão se ferrar.

(me desculpem.
Imagino que a drica acima soaria melhor,numa poesia.
Acho que estou um pouco "alterada",e não tive tempo para escrever em versos,o ensaio presente.)

Ciranda de Pedra disse...

Quem lembra do remake da novela antiga com esse nome,com Ana Paula Arósio,no papel principal?

Uma mãe muito dedicada às suas filhas,após tranquilizar-se quanto ao destino de todas elas,foge com seu namorado da juventude,e vive feliz para sempre com ele.
Em dez anos,estará esquecida de tudo.
O marido(esse namorado) se suicida junto com ela,que jamais aceitará seu estado demenciado.
Ambos vão para o céu,e ficam unidos para sempre na única coisa que merece ser lembrada em todos os tempos,

-o amor.

Um bom dia,um abraço em todos.
Até mais tarde,se eu voltar hoje.

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William Robson disse...

Meu Ideal Seria Escrever...

Rubem Braga
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MUITO BONITO!

William Robson disse...

“O texto deve ter sensibilizado todos os que tem motivos para se preocuparem com seus entes queridos.”
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Espero que sim Nihil.
A foto postada é da Cecília e um de meus sobrinhos [não sei se os pais me autorizam revelar o nome, vou entrar em contato]
Quando namorava minha esposa fiquei sabendo que Cecília nunca tinha visto o mar, a levamos a praia e ela com muito prazer molhou seus pés nas ondas.
Dá para acreditar que uma pessoa querendo tanto conhecer o mar se “evite” este prazer?

É senhoras e senhores... CARPE DIEM!