sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Dicionário Engajado

  Dizemos que alguém é engajado quando adere ideologicamente a uma causa.

  Dicionários são feitos por pessoas, elas podem ser engajadas em qualquer causa, vivemos em um país livre, o problema é quando elas levam esse engajamento para os dicionários.
  Infelizmente é algo que tenho observado atualmente.

  Até pouco tempo atrás os dicionários eram bem confiáveis.
  Conseguíamos uma boa definição sobre o significado das palavras, os dicionários eram mais “científicos” ... no sentido de uma pesquisa séria com o máximo de isenção possível respeitando as observações empíricas.

  Os dicionários se sustentavam em duas bases.

1 - Origem

2 - Uso coloquial
  (A linguagem coloquial, ou informal, é a variante linguística que usamos com mais frequência no nosso dia a dia.)

  A origem da palavra no latim (língua base de nosso idioma) ou de onde ela supostamente surgiu.
  Uma palavra indígena que foi assimilada ao cotidiano, uma palavra estrangeira que começou a ser usada.

  Exemplo rápido e atual.​​

  A palavra “deletar” não existia na língua portuguesa.
  Se você procurar em dicionários de 15 anos atrás não vai encontrar.
  Com o aumento do uso de computadores e a tecla “delete” nós brasileiros começamos usar a palavra delete como apagar.
  Ficou algo tão corrente que criamos o verbo deletar.

  Um dicionário “atualizado sério/cientifico” vai registrar a origem dessa palavra no inglês e o aportuguesamento dela dando o significado de apagar.
  Um dicionário “atualizado engajado” vai ignorar essa palavra por considera-la um “estrangeirismo”, uma concessão ao “imperialismo inglês/americano”.

  Vejam bem que os dicionários eram confiáveis porque traziam uma pesquisa sobre a origem da palavra e como ela se transformou/adaptou na linguagem corrente, nas conversas sociais.
  Delete NÃO passou por uma transformação além das conjugações verbais.
  Delete significa apagar em inglês e manteve seu significado no português.

  Vamos ao que provocou esse texto.

  Atualmente alguns decidem qual significado a palavra vai ter e atualizam os dicionários segundo suas ideologias.


 


 Vejam o caso do sufixo "ismo".

Homossexualismo era definido assim:

Substantivo masculino
1 - Prática de relação amorosa e/ou sexual entre indivíduos do mesmo sexo.
2 - Homossexualidade.


Está sendo “atualizado” assim:

                                          

 Homossexualismo -  Termo em desuso que costumava definir a relação afetiva e amorosa entre pessoas de mesmo sexo como uma doença (através do sufixo "ismo").
  Hoje em dia o termo correto é homoafetividade ou Homossexualidade.
 
"Homossexualismo não é crime"
 
[Dicionário Informal]

 



  O termo “homossexualismo” está em desuso!?
  Nosso povo em geral é tão culto que “sabe” que o sufixo “ismo” se refere a doença.
  Ateísmo, cristianismo, islamismo, budismo, feminismo ... são doenças!?
  Chega a ser hilário.
  No final é colocado a frase:
                                                    
  "Homossexualismo não é crime"

  Caraca!
  Seguindo a definição desse dicionário a palavra homossexualismo nem existe mais (ou vai desaparecer).
  Se o termo homossexualismo se refere a uma “doença” que não existe ... o próprio termo vai para o “museu das palavras”, sai do nosso cotidiano.
  Se o termo está tão em desuso porque foi usado na frase final!?
  O certo seria:
  “Homossexualidade não é crime”.

  Fica claro o engajamento contaminando nossos dicionários.

  Agora como as consultas são online, nossas crianças e adolescentes ao pesquisarem vão encontrar uma verdadeira lavagem cerebral “progressista”.
  Ficou muito fácil atualizar dicionários segundo uma ideologia.
  E não adianta procurar em outros sites, acontece uma contaminação do “politicamente correto”.
  Quem se atrever a ser “didático/cientifico” é taxado de reacionário, retrógrado, coxinha, neoliberal...

  Algum grupo decidiu que o sufixo “ismo” se refere necessariamente a doença.
  Então estamos proibidos de escrever homossexualismo porque estamos necessariamente classificando a homossexualidade como doença.
  Estamos ofendendo os "homoafetivos."

   Vamos pesquisar um pouco...

                                            

   “O sufixo de origem grega ‘ismo’, além de denotar “condição patológica”, é o mesmo que usamos para indicar “doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso”; “ato, prática ou resultado”; “peculiaridade”; “ação, conduta, hábito, ou qualidade característica”.
  Como se vê, o termo homossexualismo pode soar inocente e até positivo, como turismo, patriotismo, lirismo, escotismo etc”
[Sobre Palavras]

 


  Na origem do sufixo "ismo", não vemos que ele se refere necessariamente a doença, mas o politicamente correto não se importa com a origem das palavras.

  E na linguagem corrente?
  No meu cotidiano aqui em Campinas as pessoas entendem (corretamente) a palavra como o namoro entre duas pessoas do mesmo sexo. 
  Nos meus debates na Internet com o Brasil inteiro em geral as pessoas usam a palavra homossexualismo como sinônimo de comportamento homossexual.

  Percebam que estão atualizando os dicionários online segundo o “desejo” de uma minoria.
 (“Atualizar” o dicionário impresso é bem trabalhoso/caro.
   Precisa imprimir toda uma nova edição.
   No digital não, quem tem acesso, digita novas definições em segundos.)

  Não tem a ver com a origem da palavra, com o linguajar e nem entendimento corrente.

  É o dicionário sendo usado não para registrar o uso de um verbete, mas engajado em uma causa ideológica.😟







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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Estatísticas

                                                

“Muitos usam a estatística como os bêbados usam postes, mais para apoio do que para iluminação.”
 [Andrew Lang]

 

  Gosto de ler dados estatísticos, são mais confiáveis que a “psicologia”.


  Estava lendo uma matéria na Revista Veja sobre a morte de policiais no Rio de Janeiro.
  Foram 97 mortos em 2017 ...até Agosto!
  Toda reportagem gira em torno desse número, realmente é uma tragédia.
  Aqui no Blog gosto de ir nas entrelinhas que ninguém lê.
  Lá no meio da reportagem tem o número de pessoas mortas pela polícia do Rio, cerca de 500 pessoas!
  Evidente que no meio desses 500 civis mortos há gente inocente que estava no lugar errado na hora errada.
  Porém acredito (quero acreditar) que 99% realmente sejam bandidos que entraram em confronto com a polícia e "felizmente" levaram a pior.
  Boa parte dos brasileiros são contra a pena de morte sem perceber que ela é aplicada de maneira selvagem no Brasil.

  Se a pena de morte fosse aplicada de maneira civilizada contribuiria para redução da criminalidade no Brasil?

  Aposto que sim.
  Com ela eliminaríamos os generais, aqueles que (dentro das prisões) comandam as facções criminosas que se tornaram "exércitos".
  Todo tipo de organização tem uma cúpula ditando a direção (boa ou má).
  Eliminar a cúpula não elimina necessariamente a organização, mas a desarticula bastante.
  Eliminar um general da bandidagem evita que eliminemos 500 soldados do tráfico.
  Se Hitler tivesse sido morto em 1940, dificilmente teríamos uma guerra mundial que se estendesse até 1945.
  Comando Vermelho ou PCC seriam tão articulados se sistematicamente, por meios legais, eliminássemos seus líderes?
  O exército de bandidos que promove essa guerra civil estaria tão poderoso?
  Minha aposta é que não.
 
  Paralelo a isso precisamos construir presídios, pelo menos 2 milhões de vagas.
  Para uma população de mais de 200 milhões é uma projeção bastante otimista.
  Prenderíamos menos de 1% da população.
  Hoje as vagas em presídios não chegam a 700 mil.

  Perceberam?
  Infelizmente o link para reportagem não esta disponível, mas ao destacar só um dado estatístico, a morte de policiais, a matéria apoia a ideia que esta havendo um massacre desses profissionais.
  Analisando outros dados (buscando a "iluminação") vemos que a morte de policiais esta dentro de um contexto de muita violência urbana.

  Se diminuirmos a impunidade através de um judiciário (leis) mais eficiente a violência urbana diminui e a diminuição da morte de policiais será uma das consequências positivas.













 Na revista Veja li outra matéria exaltando o sucesso da adoção das cotas no Brasil.
  Mostrou pessoas que graças a ter frequentado uma Universidade melhoram bastante de vida.
  Sem sistema de cotas as boas oportunidades não teriam surgido para elas.
  No final só falta a reportagem escrever em letras garrafais uma mensagem as pessoas que iguais a mim são contra as cotas.

 CHUPEM SEUS REACIONÁRIOS!


   “Passados quinze anos do empurrão inicial e cinco da obrigatoriedade por lei, as previsões catastróficas não se confirmaram, e o balanço é mais positivo do que se imaginava.”
 [Revista Veja]

  

   Antes de prosseguir deixo claro que aceito cotas em Universidades públicas para pessoas que estudaram em escolas públicas, até o máximo de 50% das vagas.
   Fora disso não consigo defender nenhum outro tipo de cota. ​​
   Seria mais ou menos assim, só para visualização.
   50% das vagas ficariam com os melhores classificados independente de qualquer coisa.
   A outra metade seria reservada para os melhores classificados da escola pública.

  Vou tentar me fazer entender...

  Cursos universitários custam caro, por isso, com raras exceções no mundo, mensalidades são cobradas até em universidades publicas.

  Nos países mais “civilizados” o aluno esforçado, talentoso que através do mérito tem boa pontuação consegue bolsa de estudos na medida da sua necessidade.

  No Brasil não, universidade pública é sinônimo de universidade “grátis” (paga pela sociedade).
  Com isso o número de vagas fica ainda mais limitado uma vez que depende diretamente da arrecadação de impostos.

  Vamos trabalhar com números bem reduzidos para facilitar a visualização.

  Temos 100 vagas anuais em nossas universidades públicas e 500 pessoas dispostas a cursa-las.

  Não tem jeito, 400 terão que tentar no próximo ano.

  É colocado uma cota racial.
  30% das vagas são separadas para cor de pele.

  No geral a vaga por mérito é reduzida para 70.

  O garoto branco, esforçado, competente tinha em disputa 100 vagas agora tem 70.
  As coisas ficaram bem mais difíceis para ele.

  O garoto conseguiu a colocação de número 80 o que lhe daria direito a vaga, mas um índio ou negro que foi menos bem no teste vai ficar com ela.

  As variáveis são muitas, mas para nossa meditação vamos dizer que 15 bons alunos brancos e pobres perderam a vaga só por sua cor de pele.

  Preste atenção na minha pergunta:

  Quem está entrevistando esses garotos brancos excluídos ou os familiares deles?

  Depois de 2 anos de tentativa sem sucesso e altos gastos essas pessoas podem desistir de cursar uma faculdade.

  A garota branca que sonhava em cursar medicina vai continuar balconista.

  O garoto branco que sonhava em ser engenheiro, vai continuar repositor de supermercado.

  O “loirinho” diante de tanta dificuldade pode seguir pelo caminho “mais fácil” da criminalidade.

  Veja bem, 15 estudantes pobres brancos foram melhor no teste, mas tiveram seu “destino” alterado em nome de uma “dívida histórica”.

  Quem tem 18 anos (2017) nasceu em 1999.
  Lembremos que a abolição dos escravos ocorreu em 1888.
  O jovem branco está sendo penalizado por uma situação ocorrida 1 século antes do seu nascimento!

  Lembremos também que a escravidão não foi uma “invenção” brasileira nem portuguesa.
  Africanos tinham essa cultura, árabes tinham essa cultura ... o hebreu Abraão tinha escravos com a benção do Deus Bíblico.

  O passado passou.
  O que podia ser feio contra a escravidão foi feito.
  Foi tornada crime.
  Sempre que aparece uma "situação análoga" o combate depende da eficiência do nosso poder judiciário...

  Mas apoiados em dados estatísticos "tendenciosos" achamos por bem criar um sistema de  compensação por "dividas históricas".


   A matéria da Veja alardeia estatisticamente que quem ganhou benefício das cotas está melhor.
  Como poderia ser diferente!?

  Minha filha por ter pai negro estuda de graça em uma boa faculdade.
  O filho do vizinho por ser branco perde a vaga na mesma Universidade.
  Daqui 5 anos minha filha se forma pela Unicamp e o filho do meu vizinho ... 😞
  Quem se importa com ele?
  Quem vai ser o chato de colocá-lo em alguma "estatística reacionária"?


    


  Essas são colegas de trabalho, Nitty e Alessandra.
 
  A revista Veja colocou muitos rostos em suas “estatísticas” eu também quis colocar na minha.
  Alessandra é pobre, tem filho adolescente, quando a mídia vai entrevistar ela e seu filho branco e pobre sobre o sucesso das cotas?


 

  


Textos complementares:

Ser Conservador ("Reacionário")






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